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Guardiões da Galáxia.

1
Posted 03/11/2015 by in 2014

Rating

Nota:
 
 
 
 
 

4/ 5

Ano:
 
Diretor:
 
Título Original: Guardian of the Galaxy.
 
Elenco: Benicio Del Toro, Bradley Cooper, Chris Pratt, Dave Bautista, Lee Pace, Michael Rooker, Vin Diesel, Zoe Saldana.
 
Roteiro: Nicole Perlman, James Gunn.
 
Compositor: Tyler Bates.
 
Duração: 121 minutos.
 
Montagem: Fred Raskin, Hughes Winborne.
 
Fotografia: Ben Davis.
 
Resumo:

Apesar de alguns defeitos, o roteiro do filme é formidável, montando muitíssimo bem vários de seus personagens e conflitos. Dispondo também de uma direção segura, Guardiões da Galáxia configura-se o melhor filme da Marvel até então, acertando em refletir no espectador o bom humor proveniente de seus personagens.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Guardiões da Galáxia é um filme de ação despretensioso que aposta na interação entre seus personagens para divertir o espectador. Contando com heróis excêntricos que buscam atender aos vários moldes do gênero, o filme oferece uma história simples e conhecida que, no entanto, não deixa de ser construída e amarrada com habilidade pelo diretor e co-roteirista James Gunn.

A trama de Guardiões da Galáxia é um tanto rudimentar e clichê. O vilão quer destruir um planeta inteiro usando um artefato de poder imensurável e o grupo de heróis, unido pelas vicissitudes do destino, tenta impedir que o sujeito tenha sucesso em seu plano.

O filme abre de forma brilhante com uma pequena cena que, em poucos minutos, já revela vários dos elementos que irão compor a aventura. O espectador é apresentado a um garoto sentado sozinho em um banco de hospital, imerso em seus pensamentos enquanto ouve música. Após visitar sua mãe, que morre de câncer, ele sai correndo chorando do hospital. No entanto, assim que deixa o prédio, é abduzido por uma frota de naves alienígenas.

Ironia é algo recorrente em Guardiões da Galáxia. Podemos observar, por exemplo, que a cena seguinte continua subvertendo as expectativas: o espectador acompanha um sujeito misterioso caminhando pelas ruínas de uma civilização, vestindo uma máscara ameaçadora e usando um equipamento especial que o permite enxergar o holograma dos habitantes daquele lugar agindo como se ainda vivessem ali, até ele finalmente encontrar o templo que guarda o objeto que veio procurar. Logo que adentra o aposento, ele remove a máscara, revelando ser o menino do prólogo, coloca fones de ouvido e começa a dançar, enquanto vence os obstáculos do lugar de forma descontraída.

No meio da cena, um gigantesco letreiro anunciando o nome do filme surge praticamente esmagando o indivíduo, no mesmo instante em que a câmera se afasta, deixando-o minúsculo no canto inferior esquerdo da tela – realizando uma rima visual com o plano em que é o personagem é abduzido. A intenção do diretor com essas duas imagens é clara: fazer graça com o aspecto de vulnerabilidade de seus heróis, ora brincando com as tragédias que vivenciaram, ora com as situações de perigo absurdo que eles se veem tendo que enfrentar.

O grupo, encabeçado pelo terráqueo Peter Quill (Chris Patt), é também composto pela alienígena de pele verde, Gamora (Zoe Saldana), pelo musculoso Drax (Dave Bautista) e pelo guaxinim falante Rocket (Bradley Cooper) e seu parceiro Groot (Vin Diesel), uma árvore humanoide. O protagonista é um sujeito bon vivant, que parece pouco se preocupar com o perigo, embora jamais deixe de notar a gravidade das situações em que se encontra – e é aqui que se observa o ponto de equilíbrio que faz o personagem funcionar: ele não age de forma jocosa por desacreditar na ameaça iminente; ele o faz mesmo a aceitando e a compreendendo muito bem. De outro modo, seus feitos certamente seriam desmerecidos por si próprio, não mais soando corajosos, e o universo do filme deixaria de ser respeitado por seus próprios personagens.

Gamora é, por sua vez, uma personagem mais intensa que Quill, apesar de ser o elo fraco do grupo. Zoe Saldana parece indecisa se pretende trabalhar o aspecto violento da personagem ou aquele que gera suas boas intenções, exagerando nos dois lados e soando apenas contraditória. Além disso, ela é definida pela raiva que sente dos vilões, o que a aproxima tematicamente de Drax, sem ter o diferencial do personagem de Dave Bautista: o ódio de Drax o levou a megalomania, o que, aliado a sua incapacidade de entender metáforas, gera piadas recorrentes (“Por que eu passaria meu dedo no pescoço dele?”). Já Rocket e Groot, dois exóticos caçadores de recompensas, assumem perfeitamente o papel de Han Solo e Chewbacca em Star Wars, o primeiro entretendo o leitor com seus diálogos afiados – sempre contrastando com o fato de serem pronunciados por um guaxinim – e o segundo divertindo pelo fato de seus trejeitos grosseiros apresentarem oposição a sua personalidade gentil e por repetir uma única frase (“Eu sou Groot”), independentemente do contexto.

Os personagens de Guardiões da Galáxia mostrarem-se clichês, no entanto, é fundamental para a construção do tom leve e despretensioso da história. O que não significa que a maioria não tenha um desenvolvimento excelente, com cenas-chave revelando pequenas nuances em suas personalidades. Basta notar como o momento em que Rocket aparece sem roupas e o protagonista observa, com uma expressão triste, os chips implementados nas costas de seu colega, ou aquele que contém a revelação do motivo de Quill fazer tanta questão de ser chamado de “Star-lord”, fazem o espectador esquecer as piadas e enxergar os personagens como indivíduos.   

Como a dinâmica entre eles é o centro temático da história, o roteiro tenta justificar a união colocando fortes semelhanças em seus passados trágicos. Desse modo, se eles se juntam porque o destino assim o quis, eles se mantêm unidos porque compreendem a dor do outro. Os roteiristas, James Gunn e Nicole Perlman, vão mais além, intensificando a ideia em diversas cenas: se, em um primeiro momento, são as desavenças que ganham destaque (Rocket com raiva por acreditar ser menosprezado por ser um guaxinim, por exemplo), logo são pequenos momentos de sacrifício e ajuda que ganham foco, para então partir para a cena em que eles finalmente admitem a união – embora ainda apareçam brincando com a situação (“Somos um bando de idiotas fazendo uma rodinha”) –, e, então, finalmente culminar na entrega total deles no excelente clímax, em que literalmente compartilham a dor do outro se dando as mãos.

A qualidade do roteiro é visível também na quantidade de pistas e recompensas escondidas na narrativa, como, por exemplo, a revelação de que o salvamento de uma família aparentemente aleatória tem, na verdade, peso dramático para um dos personagens secundários. Até mesmo as piadas que eventualmente se repetem na história o fazem para concluir suas ideias, com destaque para a fala repetida de Groot, que termina revelando bastante sobre o personagem e conectando-se magistralmente com o tema do filme.

Nesse ponto, é importante ressaltar a habilidade do diretor em entupir sua obra com piadas sem torná-las cansativas no processo, ao adotar uma estratégia visual diferente para cada uma. Em uma hora, por exemplo, ele mostra alguns personagens conversando sobre um plano para escapar de uma prisão, enquanto no fundo outro surge fazendo justamente o que eles estavam estabelecendo como sendo uma péssima ideia. Já em outra, mantém um personagem fora de quadro até sua presença ser importante para fazer humor. No prólogo, ele diminui o protagonista duas vezes para ironizar sua situação e, perto do clímax, coloca Gamora bocejando em meio a um épico plano em câmera lenta.

Vale também reparar na semelhança temática entre as várias piadas do filme, que quase sempre contrapõem um ato de violência com um gesto ou diálogo infantil, como o largo sorriso que Groot abre após dizimar um grupo de soldados inimigos, as razões de Rocket para querer a perna mecânica de um prisioneiro e o lamento de outro após ser roubado por Drax (“Aquela era minha faca favorita”).    

É igualmente perceptível o cuidado com o visual do filme, que abusa de cores fortes e chamativas para criar um universo completamente alienígena e diverso daquele exposto nos outros títulos da nova geração da Marvel, sem, com isso, abandonar uma lógica interna eficiente. Basta reparar, por exemplo, na consistência do visual de todos aqueles que ameaçam o protagonista, indo do vilão principal e do chefe de Quill ao primeiro prisioneiro que pretende agredi-lo e ao guarda da prisão que efetivamente o faz: são todos azuis. Pela mesma razão, Gamora se destaca imediatamente quando surge ao lado dos vilões por ser verde – não a toa, uma das principais cores associadas a traição.

Se Guardiões da Galáxia falha em algum aspecto é no desenvolvimento do principal vilão do filme, o alienígena Ronan (Lee Pace), que surge consideravelmente unidimensional. Ele é inicialmente apresentado como um líder fundamentalista fanático, mas o conceito jamais é explorado e suas razões para destruir um planeta inteiro nunca ultrapassam o básico de “Eles mataram meu pai”. Servindo como comparação, o reboot de Star Trek de 2009 é um filme de tom similar que acertou nesse aspecto, criando um vilão cujas motivações para também destruir um planeta, além de bem mais proporcionais, são totalmente compreendidas pelo espectador, o que ajuda a tornar o personagem mais complexo.

Já um ponto menor em que o filme também derrapa é o foco excessivo e deveras aleatório na arma do chefe de Peter Quill, o alienígena Yondu Udonta (Michael Rooker). Sempre que o sujeito aparece, a câmera gruda no objeto, indicando que ele vai assumir alguma função importante na trama. No clímax, de fato, a arma surge matando um grupo enorme de inimigos, mas em uma cena separada dos personagens principais e sem qualquer impacto dramático. Ou seja, a arma acaba não interferindo em nada e, ainda por cima, culmina numa cena inteiramente descartável.

Apesar desses defeitos, o roteiro do filme é formidável, montando muitíssimo bem vários de seus personagens e conflitos. Dispondo também de uma direção segura, Guardiões da Galáxia configura-se o melhor filme da Marvel até então, acertando em refletir no espectador o bom humor proveniente de seus personagens.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

Publicado originalmente em 22 de agosto de 2014.


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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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