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Abzû.

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Posted 08/25/2016 by in PC

Rating

Nota:
 
 
 
 
 

4/ 5

Plataforma: , ,
 
Título: Abzû.
 
Publicador: 505 Games.
 
Desenvolvedor: Giant Squid.
 
Duração Média: 4 horas.
 
Lançamento: 02/08/2016.
 
Diretor: Matt Nava.
 
Compositor: Austin Wintory.
 
Roteirista: Matt Nava.
 
Resumo:

Abzû segue muito de perto a estrutura de Journey para não ser discutido nos mesmos termos que ele. No entanto, ao trazer uma jogabilidade menos interessante, o jogo acaba empalidecendo na comparação, mesmo que apresente uma história e um universo tão fascinantes quanto.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Abzû, jogo de aventura desenvolvido pela Giant Squid, traz uma proposta muito semelhante ao último título dirigido por Matt Nava, Journey: contar uma história por meio, quase que exclusivo, da exploração e interação do jogador com o cenário.

Em Abzû, o jogador controla um nadador misterioso (sua face é coberta por sombras dentro de uma máscara) que se encontra em mar aberto, na entrada das ruínas de uma civilização antiga. O objetivo é descobrir a história do lugar e a motivação do sujeito para estar ali.

Nava segue bem a risca a fórmula utilizada em seu jogo anterior: utiliza um estilo gráfico em cel-shaded para construir um ambiente rico em cor, torna o caminho do jogador linear para facilitar a execução de uma trilha sonora orquestrada, mas dinâmica, enquanto desenvolve uma história que mistura misticismo e tecnologia.

O diretor deseja criar uma espécie de simbiose entre o personagem do nadador e o cenário. Há, por exemplo, uma relação de ajuda mútua entre os animais aquáticos e o protagonista: enquanto uma das poucas ações disponíveis ao jogador é “ativar” pequenos corais que “libertam” novos peixes para o oceano, devolvendo vida a ele, estes retribuem a atenção em outros momentos – notadamente aquele em que o personagem nada ao lado de gigantescas baleias, seguindo pelo mesmo caminho: elas parecem guiá-lo pela imensidão do oceano.

Além disso, a história é desenvolvida a partir da exploração do ambiente. Encontrando gravuras em ruínas submersas e analisando outros elementos do cenário, o jogador vai construindo suas teorias sobre o que ocorreu com o lugar.

Os temas tratados são os mais variados, dado a multiplicidade de interpretações possíveis: o jogo deixa espaço para a discussão sobre o ciclo da vida, a resistência da natureza – que, afinal, circunda os restos de uma civilização – e até alguns assuntos mais surpreendentes, como a existência de alma em máquinas.

A dinamicidade da trilha é um dos elementos mais fundamentais da narrativa, visto que comenta a jornada do protagonista. Em um determinado momento, após seguir um grupo de orcas, o nadador salta da água em sincronia com elas, enquanto a música alcança seu pico. No entanto, quando ele volta para dentro d’água, as orcas desapareceram e o jogador se vê em um ambiente desprovido de vida animal, cor e energia. A trilha sonora acompanha o movimento da cena e some junto com as orcas, intensificando o súbito efeito de desolação provocado.

Como em Journey, Nava também merece créditos por trabalhar muito bem com o surreal, criando imagens impressionantes: após atravessar certos portais, o nadador chega a um lugar místico, onde espíritos de animais se movimentam a seu lado e a superfície do oceano está abaixo de si e não no topo. O personagem parece flutuar no vazio, cercado apenas de estrelas e espíritos.

Contrapondo-se a esses momentos, estão aqueles em que o protagonista encontra ferramentas tecnológicas que o ameaçam, apesar de deslumbrar o jogador com seu aspecto e funcionamento alienígena. Há um comentário político evidente nas descobertas sobre a civilização perdida em Abzû: sem revelar detalhes, é suficiente apontar que a queda deles está tematicamente relacionada com a tentativa de controlar a natureza.

Afinal, o núcleo dramático do jogo é a guerra entre tecnologia e natureza, conflito este que se torna ainda mais complexo com as revelações acerca da identidade e das motivações do protagonista – além da evolução do vínculo que ele mantém com um grande tubarão branco. Nava, portanto, conta uma história que – mesmo aberta a diversas interpretações – permanece coesa no estabelecimento de seus principais elementos.

Todavia, o diretor peca na construção das mecânicas do jogo. O principal problema é o contraste entre a grande atenção dada à vida marinha e as parcas possibilidades de interação com ela. De um lado, o jogador é incentivado a “meditar”, o que leva a câmera para longe do protagonista, com o objetivo de observar apenas a IA dos peixes trabalhando – eles reagem à presença de outros cardumes, comendo uns aos outros volta e meia –, enquanto, do outro, a única ação direta que pode ser realizada com os animais é pegar uma carona nos peixes grandes, deixando-os levar para onde quiserem. Não os utilizando sequer nos poucos puzzles presentes na aventura, Nava acaba perdendo a oportunidade de explorar ainda mais o tema de sua história.

Removendo desnecessariamente o componente multiplayer de Journey, sem oferecer nada no lugar, a equipe da Giant Squid também peca ao tornar ainda mais simples uma fórmula que nunca prezou pela complexidade. É verdade que o multiplayer relaciona-se mais com o tema da história daquele jogo do que com o deste, mas sua ausência só torna Abzû mais carente de elementos.

Também é notável a diferença de conexão mantida entre jogador e protagonista em ambos os jogos. Em Journey, o personagem silencioso serve como um avatar, uma vez que seu arco narrativo é construído em termos gerais e o sujeito vai aprendendo sobre aquele universo junto com o jogador. Já o nadador de Abzû é um mistério para o jogador desde o início, sendo construído um distanciamento entre eles que jamais é encurtado.

Abzû segue muito de perto a estrutura de Journey, embora, ao trazer uma jogabilidade um pouco menos interessante, o jogo acabe empalidecendo um pouco em comparação – mesmo que apresente uma história e um universo tão fascinantes quanto.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

25 de agosto de 2016.

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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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