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Bayonetta.

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Posted 10/28/2016 by in PC

Rating

Nota:
 
 
 
 
 

3/ 5

Plataforma: , , , ,
 
Título: Bayonetta.
 
Publicador: Nintendo / Sega.
 
Desenvolvedor: Platinum Games.
 
Duração Média: 20 horas.
 
Lançamento: 05/01/2010.
 
Diretor: Hideki Kamiya.
 
Compositor: Hiroshi Yamaguchi, Masami Ueda, Norihiko Hibino, Rei Kondoh, Takahiro Izutani, Yoshitaka Suzuki.
 
Roteirista: Hideki Kamiya.
 
Resumo:

Bayonetta é um jogo de ação que surpreende com sua protagonista e diverte com seu sistema de batalha. Todavia, sua narrativa maçante e sua história rasa entediam o jogador nas mesmas proporções.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Desenvolvido pela Platinum Games, Bayonetta é um jogo de ação que traz uma heroína pouco usual e um sistema de combate simples e empolgante. No entanto, sua narrativa mostra-se dispersa, com a ação sendo interrompida inúmeras vezes para contar uma história que pouco evolui.

A protagonista do jogo, Bayonetta, sofre de amnésia. Ela uma bruxa Umbra – uma seita europeia em conluio com demônios que está em uma guerra eterna com as forças do Paraíso e os sacerdotes Lumen. No entanto, as bruxas estão praticamente extintas e os sacerdotes desaparecidos. Quando Baytonetta descobre que um artefato místico de sua seita, os Olhos do Mundo, apareceu no mercado negro, ela vê a oportunidade de desvendar o mistério acerca de seu passado e viaja para a cidade sagrada de Vigrid.

Bayonetta é uma personagem feminina impactante devido à apresentação de sua sexualidade. Seria fácil apontar uma objetificação de seu corpo pelo jogo, uma vez que a câmera volta e meia dá zoom em seus peitos e regularmente desce para suas partes íntimas, girando ao seu redor enquanto ela chupa um pirulito. No entanto, o desenvolvimento da personagem complica a análise: na narrativa, Bayonetta é uma mulher que surge tanto forte quanto independente. É ela que, com frequência, salva seus companheiros e não o contrário; que determina o rumo dos acontecimentos –  interrompendo o discurso de seus inimigos e sendo a primeira a desferir um golpe –; e suas principais ações não são tomadas levando em consideração  homens. Devido a seus encontros com uma bruxa chamada Jeanne, o jogo até mesmo passa facilmente no teste Bechdel – o que não deixa de ser curioso.

A protagonista, todavia, é exageradamente sexualizada: ela é sádica e dominante, usando seu corpo para provocar e subjugar seus inimigos. Em um momento revelador, Bayonetta depara-se com uma cópia e, para provar que é a verdadeira, desafia sua oponente para um duelo de movimentos sensuais. Em outras palavras, sua sexualidade é uma questão de identidade: não é a toa que sua fonte de seu poder forma justamente sua roupa, deixando-a nua quando utilizada.

Olhando diretamente para a câmera durante alguns de seus movimentos mais intensos, Bayonetta também quebra a quarta parede. O objetivo é subverter o olhar masculino típicos desses movimentos de câmera: pode parece que ela está sendo tratada como um troféu, mas a personagem na verdade está provocando e desafiando o observador.

É uma pena, portanto, que a personagem seja limitada a sua sexualidade, tendo poucas características adicionais trabalhadas pela história, além de uma breve questão sobre maternidade. Nesse sentido, ela é uma personagem plana – como todos no jogo –, não tendo um arco narrativo propriamente dito. Bayonetta descobre sobre seu passado eventualmente, mas a revelação não muda absolutamente nada a forma com que ela enxerga a si própria ou o mundo, servindo apenas às necessidades do plano do vilão. Dessa forma, por mais que ela seja forte e independente, a bruxa continua se configurando uma personagem feminina resumida a seus traços sexuais.

Muito disso se deve à história do jogo ser bem pobre, conseguindo a proeza de ser maniqueísta mesmo com a protagonista lutando pelo inferno  em vez de pelo paraíso: o sacerdote Lumen que ela enfrenta é irremediavelmente maligno, chegando a causar a morte de membros de sua própria seita em ganho próprio, enquanto Bayonetta protege inocentes.

O erro mais grave do roteiro reside no ritmo da narrativa. Afinal, todos esses defeitos da história não seriam tão importantes se ela não tivesse tanta proeminência no jogo. Em Bayonetta, porém, a ação é constantemente interrompida por cutscenes que não adicionam nada à trama.

O início do jogo é sua melhor parte. São estabelecidos o mistério, a personalidade da protagonista e a dos coadjuvantes – Luka, um jornalista mulherengo que acredita que Bayonetta matou seu pai, ganha destaque – e as características daquele universo. Até a batalha contra o primeiro chefe é corretamente preparada, com o jogador enfrentando-o em desvantagem duas vezes antes da luta principal e tendo a batalha interrompida em ambos os casos, o que reforça o clímax do terceiro confronto.

Todavia, a narrativa empaca logo após esse embate. Não se descobre mais nada sobre a protagonista até os dois últimos capítulos – de 16 – ou sobre Luka. Além disso, os personagens repetem as mesmas interações frequentemente: é interessante, por exemplo, notar o desconforto do jornalista quando ele entende que é Bayonetta quem tem o controle sobre ele e não o contrário – mas só na primeira vez em que isso ocorre. Nem os chefes são mais devidamente preparados, surgindo e sendo derrotados na mesma fase, enquanto suas últimas falas antes de morrer são basicamente iguais, martelando que eles apenas estão preparando Bayonetta para o renascimento de seu deus – que surpresa, então, quando ela descobre no último capítulo que o vilão estava preparando-a para o renascimento de seu deus…

É importante repetir que não importa muito que a trama seja previsível e rasa contanto que ela não seja o foco do jogo, mas esse não é o caso de Bayonetta, em que as batalhas são regularmente interrompidas por ou intercaladas com longas cutscenes. A que apresenta finalmente o vilão, por exemplo, tem intermináveis onze minutos. Essa cena em particular ainda peca pelo excesso de exposição, basicamente contando toda a história do jogo de uma vez só e de forma repetitiva: é até possível, embora não recomendável, fazer um drinking game com a quantidade de vezes que o termo “the left eye” é mencionado.

A área em que o jogo brilha certamente é seu trabalho de animação, que se configura o grande responsável pelo sucesso do sistema de combate. Os movimentos que Bayonetta realiza durante as batalhas impressionam por sua complexidade e fluidez. A personagem dança enquanto luta, esticando suas pernas – com revólveres presos a seus pés –, cruzando seus braços, contorcendo seu tronco, tudo sem pausa, com um movimento levando ao próximo. Com isso, os combos realizados pelo jogador não somente são úteis para eliminar os inimigos, como também impressionam visualmente, atendendo a filosofia do diretor Hideki Kamiya de “lutar com estilo”.

Outro elemento importante do combate é sua simplicidade: há somente dois botões principais, soco e chute, e dois de suporte, tiro e esquiva. Esse último é responsável por ativar o chamado “Witch Time” – o tempo pausa por alguns instantes, permitindo que Bayonetta se movimente livremente e ataque inimigos estáticos – quando usado segundos antes da protagonista ser atingida. Desse modo, o Witch Time confere um elemento de risco e recompensa ao combate, desafiando o jogador a esperar mais que o habitual para escapar de um golpe. Assim, o combate em Bayonetta não é fundamentado na realização de combos elaborados – embora existam –, mas no estudo do padrão de ataques dos inimigos.

Contando com um sistema de pontuação que avalia cada batalha, Bayonetta permite que os jogadores menos experientes vençam os desafios principais sem muitos problemas, mas sempre apontando que eles podem melhorar. O único problema da pontuação reside nos “Quick Time Events” que surgem de forma súbita – pois nem todas cutscenes de combate os trazem –, oferecem pouquíssimos segundos para o jogador agir e punem a falha com uma morte direta, independentemente da barra de vida prévia de Bayonetta. Ou seja, um jogador que conseguir a melhor pontuação possível em cada batalha de um capítulo pode ter seu placar total reduzido por um único deslize em um QTE.

Por fim, um ponto merecedor de elogios é a trilha sonora pouco usual, que prefere capturar a irreverência da protagonista a acompanhar a fúria das batalhas. Assim, em vez de haver uma trilha instrumental épica, as lutas são acompanhadas de jazz e, principalmente, músicas j-pop simples e enérgicas, como uma remixagem mais agitada de Fly Me To the Moon.  O épico só entra durante as lutas contras os chefes, gerando um contraste que aumenta a tensão desses embates.

Bayonetta é um jogo de ação que surpreende com sua protagonista e diverte com seu sistema de batalha. Todavia, sua narrativa maçante e sua história rasa entediam o jogador nas mesmas proporções.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

28 de outubro de 2016.


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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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