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A Janela de Overton.

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Posted 04/06/2015 by in Suspense

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Nota:
 
 
 
 
 

2/ 5

Sumário

Genero:
 
Autor:
 
Editora:
 
Idioma Original:
 
Título: A Janela de Overton.
 
Título Original: The Overton Window.
 
Tradução: Renato Marques de Oliveira.
 
Edição: 2011.
 
Páginas: 381.
 
Capa: Tony Mauro e Esper Leon.
 
Resumo:

O livro pretende discutir a ignorância generalizada da população e a violência empreitada pela polícia. Seu principal problema, porém, é fracassar completamente em amarrar essas ideias em uma narrativa empolgante pautada por personagens consistentes.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

A Janela de Overton é um thriller investigativo que apoia sua trama em inúmeras teorias conspiratórias. O desejo do autor, Glenn Beck, de abrir os olhos do leitor para várias questões relevantes da sociedade moderna é bem claro: as conspirações são usadas não para causar polêmica, mas como um instrumento que força o leitor a encarar os problemas políticos e sociais que o afligem. É uma pena, portanto, que o intuito do autor seja o único fator que salva o livro do tédio total, uma vez que a história contada sofre de inúmeros problemas narrativos.

O protagonista de A Janela de Overton, Noah Gardner, é um respeitável executivo de uma famosa companhia de relações públicas. Seu pai, Arthur Gardner, é um homem de fama terrível e o dono da empresa na qual o filho trabalha. No dia em que seu pai está apresentando uma das conferências mais importantes da história da humanidade, Noah se apaixona pela nova empregada de sua empresa, Molly Ross, e descobre que ela é uma ativista social feroz que despreza o governo e dedica sua vida ao combate à corrupção. Após um desastroso primeiro encontro que termina na prisão de ambos, Noah se vê compelido, por razões que só o autor deve saber, a ajudar sua nova namorada.

Glenn Beck não perde tempo em mostrar as fundações de sua história. Logo nas primeiras páginas, o leitor é bombardeado com discursos patriotas de figuras históricas americanas importantes e diálogos expositivos que evidenciam de forma cristalina o caráter conspiratório da trama.

O tema discutido, contudo, é relevante. A Janela de Overton tenta abrir os olhos do leitor para o uso da mídia num processo de construção de uma opinião pública específica. Se em um dia o prospecto de uma pessoa ser revistada toda vez que for viajar de avião é absurdo, por exemplo, depois de um atentado terrorista esse procedimento pode passar até mesmo a transmitir uma confortável sensação de segurança.

O autor escolhe muito bem quais elementos colocar em sua história para explorar essa ideia. O fato de Noah trabalhar na área de relações públicas abre oportunidades para o próprio personagem expor as técnicas que são utilizadas para chegar a esse fim: a manipulação sutil de imagens, sons e cores, por exemplo, além do uso de textos objetivos, mas ainda assim ambíguos o suficiente para espalhar desinformação.

O grupo de qual Molly faz parte só falta vestir orgulhosamente máscaras de Guy Fawkes para representar fielmente a realidade. Eles são taxados de vândalos e baderneiros pelos jornais; reclamam de todos os aspectos possíveis da política pública do governo, nunca conseguindo a proeza de manter o foco da discussão em um único assunto; e se recusam a ter líderes ou se organizar o suficiente para expulsar os óbvios agentes infiltrados de uma manifestação. O autor certamente excede um bocado na caracterização, fazendo-os portar livros absurdos de caráter violento (“Lançadores de granadas caseiros: construindo a última palavra em armas de passatempo”), mas o exagero é uma constante na obra: ele quer ter certeza que a mensagem foi transmitida.

Glenn Beck deposita a maior parte da culpa na população: se os políticos errados são eleitos, é porque as pessoas votam neles. A função de Noah na história é justamente apontar à Molly as falhas na abordagem de seu movimento. Ele explica que o efeito da mídia é bem maior que o estabelecimento de uma opinião pública, mas também de uma ilusória noção de que foram as próprias pessoas que a formaram – desse modo, elas não somente são ditas o que fazer como também defendem com agressividade suas ações. Noah entende que um movimento ingênuo e desorganizado jamais conseguirá lutar eficientemente contra esse processo. Os vilões também, embora não desfrutem da infundada esperança por um mundo melhor do protagonista, preferindo construir eles mesmos uma sociedade que funcione, enquanto alertam Noah da inutilidade de suas tentativas (“É impossível consertar tudo, e talvez não seja possível consertar coisa alguma. Tudo é grande demais e já está danificado demais. Então, não sacuda o barco, garoto. Simplesmente agradeça pelas bênçãos recebidas, mantenha a cabeça abaixada e jogue com as boas cartas que você teve a sorte de tirar”).

Todavia, por mais que as intenções de Glenn Beck sejam louváveis, a estrutura narrativa do livro sabota qualquer efeito que elas poderiam produzir. Como o próprio protagonista reflete em determinado momento, “O melhor trabalho é sequer notado. Se o público vê a mão do marqueteiro ou do assessor de imagem, então ele fracassou”. Beck está no outro ponto do espectro, esfregando suas ideias na cara do leitor sempre que vê oportunidade.

Não somente isso, como o autor também falha na caracterização de seus personagens. A primeira cena em que o pai de Noah surge, por exemplo, não condiz com a descrição inicial de um homem que se limita a matar com o olhar, uma vez que ele se irrita rapidamente durante uma reunião e lança contra a parede uma pasta aberta e cheia de papéis. Enquanto isso, Noah é constantemente apresentado como uma pessoa egoísta e sem escrúpulos, embora esteja sempre disposto a ajudar a qualquer custo os amigos de Molly, e ela, apesar de sua esperteza e sagacidade, consegue confundir a Embaixada da França com o apartamento do protagonista.

Mais grave, porém, é a inutilidade dos dois. A jornada e as peripécias de ambos são completamente irrelevantes para impedir ou até mesmo atrasar o plano dos vilões. Esse papel cabe a dois coadjuvantes clichês em uma trama paralela que resulta em um clímax no deserto dos Estados Unidos que não tem absolutamente nada a ver com o protagonista ou seu par romântico. Ou seja, a maior parte da história acompanha Noah e Molly e não chega a lugar algum, interferindo em nenhum elemento da trama principal.

A Janela de Overton é um livro com um desígnio bem nítido: despertar algumas pessoas para a ignorância generalizada da população, para os abusos políticos cada vez mais recorrentes e para a violência empreitada pela polícia. Seu principal problema, porém, é fracassar completamente em amarrar essas ideias em uma narrativa empolgante pautada por personagens consistentes. Dessa forma, o que resulta da obra é apenas a percepção de que o autor, ao menos, teve boas intenções.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

Publicado originalmente em 04 de Setembro de 2014.


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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


One Comment


  1.  
    Potti

    Eu também achei o livro muito exagerado nos exemplos e os argumentos muito fraquinhos, sem verossemelhança com a realidade. Só consegui ler os cinco primeiros capítulos.





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