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Silo.

3
Posted 01/14/2017 by in F. Científica

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Nota:
 
 
 
 
 

4/ 5

Sumário

Genero:
 
Autor:
 
Editora:
 
Idioma Original:
 
Título: Silo.
 
Título Original: Wool.
 
Tradução: Edmundo Barreiros.
 
Edição: 2014.
 
Páginas: 512.
 
Resumo:

Salvo por seus deslizes no final, Silo configura-se um ótimo exemplar de ficção científica distópica, trazendo uma versão matura do assunto, além de uma prosa consistente e bem construída.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Formado por uma sociedade onde a informação é objeto de monopólio, transmitindo uma única visão de mundo, onde a História é objeto de revisionismo para modificar a natureza de eventos inconvenientes, onde certos pensamentos e posturas são passíveis de punição grave e onde um governo violento e autoritário não hesita em reprimir manifestações contrárias, o universo de Silo, ficção científica escrita por Hugh Howey, claramente pode ser considerado distópico. Trabalhando de forma exemplar com os elementos do gênero por meio de uma prosa consistente em seus simbolismos, o livro só peca em seu último ato prolongado e anticlimático.

A protagonista de Silo é Juliette, uma eficiente mecânica que se vê, subitamente e contra sua vontade, indicada a um posto político. Aceitar o novo cargo, porém, traz a Juliette muito mais problemas do que ela antecipava: seus questionamentos frequentes, resultantes de uma visão de mundo pragmática, não são vistos com bons olhos por determinados setores da sociedade.

O chamariz do livro é justamente sua sociedade única, formada inteiramente dentro de um silo. Da mesma forma com que Snowpiercer traça uma hierarquia social pelos inúmeros vagões de seu trem, Silo estrutura verticalmente sua cidade, com cada andar do edifício representando uma classe social. Enquanto os mecânicos, em seu trabalho braçal, vivem nas profundezas do silo, mantendo-o funcionando, o principal problema daqueles do topo é a visibilidade dos sensores que revelam o mundo exterior. No entanto, os ricos são tão alienados quanto os pobres, com o governo sendo exercido por aqueles que controlam o fluxo de informação, desenvolvem tecnologia e se escondem numa máscara apolítica.

A alienação no silo é total. Enquanto os operários estão ocupados com sua própria sobrevivência, aqueles de alta renda encontram-se distraídos com o que a visão pós-apocalíptica do mundo representa: um lembrete diário de que estão onde melhor poderiam estar.

Os painéis que mostram o exterior são o ponto de conflito principal do primeiro ato do romance, centrado no xerife Holston. Belamente construídos, os capítulos iniciais de Silo introduzem o leitor a seu universo por uma perspectiva melancólica e fatalista. Holston está mergulhado em depressão desde o suicídio de sua mulher, que, obcecada com o que poderia haver fora daquele lugar, manifestou o desejo de sair: crime punido com a expulsão do indivíduo do silo, sendo deixado para morrer com a radiação exterior após cumprir a obrigação de limpar os sensores externos. Tomando para si o questionamento da esposa sobre o que poderia levar todos os condenados a sempre realizarem a limpeza quando muito bem poderiam se recusar depois estarem do lado de fora, o xerife decide averiguar a situação pessoalmente.

Não é a toa que desejar sair é a pior transgressão que se pode cometer naquela sociedade: o sentimento de insatisfação, a ideia de que sua vida pode melhorar, de que sua posição não é satisfatória serve como o germe de toda e qualquer revolta. Assim, é de um simbolismo irônico ser justamente uma limpeza a penalidade imposta a aqueles que expressam essa vontade: ao mesmo tempo em que limpar um visor significa desobscurecer o olhar daqueles lá dentro, o que é mostrado acaba servindo propósito oposto ao simbolismo do ato, reforçando, na verdade, o medo que mantém todos eles em seus devidos lugares.

Aliás, o título original Wool (“Lã” em português) está diretamente relacionado à ideia de percepção, configurando-se o material utilizado para limpar os visores. Ampliando o sentido, ele também surge no tricô feito pela prefeita no segundo ato, representando o emaranhado frágil de relações que sustentam aquela sociedade.

A narrativa em Silo é construída de forma a acompanhar o processo de esclarecimento dos habitantes do lugar, que vão gradativamente compreendendo as características da situação em que se encontram. Como em boa parte das distopias, os indivíduos não sabem inicialmente que vivem em uma, percebendo aos poucos o que está acontecendo: primeiro notam as mentiras e as contradições, depois a remoção de alguns direitos, a segregação resultante, a proibição de usar certos termos ou expressar certas ideias, e, de repente, percebem que não se pode mais fazer greve e que cada protesto é respondido com forte violência policial. Chegando nesse ponto, porém, alguns já entendem que é tarde demais para mudar pacificamente a situação e pegam em armas.

Desse modo, o silo do livro surge como um cenário claustrofóbico, descrito como uma panela de pressão pronta para estourar a qualquer instante (“A enorme pressão reprimida do lugar agora já começava a vazar pelas emendas do silo”). O livro trabalha com a tese de que revoltas tem uma natureza cíclica, fazendo parte até mesmo da mitologia do silo, que guarda histórias sobre levantes antigos. Isso confere um caráter trágico aos acontecimentos, que parecem fadados a se repetir eternamente (“Já houvera uma marcha como aquela. Botas parecidas nos mesmos degraus. Talvez algumas botas fossem até as mesmas, apenas com solas novas”). A tensão da narrativa, portanto, advém da inevitabilidade do confronto, com sua estrutura correspondendo à cadeia de eventos que leva até ele.

O trabalho do autor na construção dos personagens também é exemplar: o desamparo de Holston e sua falta de apoio emocional são perfeitamente representados em poucas palavras no início do livro, quando o personagem termina de subir a grande escadaria do silo e sua mão que acompanhava o corrimão subitamente fica “suspensa no ar”. Já com Juliette, Howey insere diversas metáforas mecânicas, refletindo a visão de mundo da mulher: “Ela passara a acreditar que havia coisas emperradas que não conseguisse soltar, tinha aprendido a atacá-las com graxa e fogo, com óleo e força bruta. Com planejamento e persistência suficientes, os parafusos sempre cediam”.

Contudo, é inegável que o autor decepciona na conclusão de sua história. Em primeiro lugar, o ritmo da narrativa é freado no último ato, alongando-se em cenas desnecessárias, como a tentativa de um personagem de ativar bombas submersas. Em segundo, aparecem algumas frases de efeito deslocadas, além de diálogos bem expositivos, ausentes previamente (“Achei que o silo estivesse em um racionamento rigoroso, pelo menos até o fim da resistência”, contextualiza um personagem após uma elipse temporal). Por fim, a solução encontrada para a revolução é anticlimática, partindo de um personagem até então aleatório, o que a faz parecer fácil demais, além de carecer de força dramática.

Salvo por seus deslizes no final, Silo configura-se um ótimo exemplar de ficção científica distópica, trazendo uma versão matura do assunto, além de uma prosa consistente e bem construída. 

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

14 de janeiro de 2017.


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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


3 Comments


  1.  
    Maysa

    Comprei o livro e achei mt massa, um dos melhors fimes de ficcao cientifica que eu ja li, super recomendo Silo, como tbm acho mt bom orfanato da srta peregrine, miss fauna e fellside.




  2.  
    JensenAckles

    Sabe me dizer quando vão lançar o segundo vol de miss Fauna?




  3.  
    2017year

    Ouvi dizerem q vai ser ainda nessa ano só q não vai ter a miss Fauna vai ser sobre um dos outros três mutagenes. Demais hein





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