Lostwinds.
Lostwinds não é um daqueles jogos que tiveram seu enorme potencial arruinado por vários problemas técnicos. O que na verdade o limitou foi a ausência do desenvolvimento desse potencial. Ele deixa a impressão de que é apenas o inicio de uma ótima aventura. O que lhe falta, portanto, para realmente ser comparado justamente com uma grande franquia é o aprofundamento de suas mecânicas e enigmas, algo que esses grandes jogos sempre fazem com esmero.
Lostwinds foi um dos jogos mais amados da plataforma digital do Nintendo Wii, chamada Wiiware, na época do seu lançamento. Graças a um estilo visual magnífico e uma jogabilidade prática e eficiente o pequeno jogo da Frontier alcançou um gigantesco status, sendo classificado como o “Zelda” do Wiiware, o que certamente garantiu a sua sequência e a versão para os dispositivos da Apple. Nessa transição, porém, por mais que o visual tenha permanecido inalterado, a estranha conversão da jogabilidade para a tela de toque quebrou um pouco a magia do original.
A história de Lostwinds nunca foi seu ponto forte. Ela conta a jornada do menino Toku enquanto ele percorre a terra de Mistralis tentando impedir que o espírito maligno Balasar renasça. Tramas parecidas já foram usadas à exaustão – principalmente na série The Legend of Zelda – mas ao contrário da franquia da Nintendo, ela é em momento algum explorada e, ainda por cima, sequer passa qualquer sensação de conclusão ao seu término. O personagem de Toku – ao contrario de Link, por exemplo – não consegue transmitir ao jogador qualquer resquício de personalidade e todos os outros habitantes da vila aparentemente estão lá apenas para mostrar que existem. Vários jogos, é verdade, não precisam de uma história para que sejam bem sucedidos, e Lostwinds de fato sequer se preocupa em contá-la, preferindo se focar mais na jogabilidade. Entretanto, mesmo contendo uma trama tão simples, o jogo consegue ainda pecar em seu clímax que, além de jamais se assemelhar propriamente a um – uma vez que não representa o apogeu do conflito da historia – ele não empolga, não a conclui e ainda abre várias tramas que provavelmente só serão tratadas na continuação.
Já quanto a jogabilidade, Lostwinds se sai bem melhor. Durante as breves três horas de jogo, o jogador não controlará Toku, mas Enril, um espírito do vento, e por intermédio de traços feitos na tela produzirá correntes de ar que irão movimentar o protagonista pelo cenário. Ou seja, se o objetivo do jogador é fazer Toku alcançar o topo de um íngreme rochedo a sua frente, ele somente precisará fazer vários cortes na tela de baixo para cima, fazendo assim com que o garoto voe até o rochedo. Essa mecânica é simples e gratificante, pois concede ao jogador um domínio maior do cenário, permitindo-o testar até onde consegue carregar o protagonista. Seu único contraponto é a decisão dos desenvolvedores de tornar toda a ação do jogo em tempo real. Na versão para o Wii o tempo parava brevemente nos instantes em que se fazia os traços na tela, como em Okami; desse modo, o jogador lançava um pedra para o alto com um risco vertical e calmamente fazia outro horizontal para arremessá-la contra uma porta. No Ipad, pela ausência da pausa temporal, essa simples ação se torna frustrante, pois o corte horizontal precisa ser feito antes que a pedra volte para o chão, o que é excruciante devido ao pobre reconhecimento das suas ações na tela de toque do tablet. E como Lostwinds é um jogo que preza por seus quebra cabeças e não pela ação, esses momentos destoam do ritmo lento da aventura sempre que aparecem.
Em se tratando dos puzzles, Lostwinds agrada, mas jamais aprofunda suas ideias. A dificuldade dos enigmas é sempre bem básica, não ultrapassando, por exemplo, a dos enigmas de um primeiro templo de qualquer jogo da série The Legend of Zelda, se limitando, portanto, a mover pedras para cima de botões que abrem portas. E quando pretendem aumentar a dificuldade, os desenvolvedores somente aumentam o número de pedras, botões e portas.
Sua apresentação, por outro lado, é belíssima: seu estilo de arte impressiona devido ao extensivo uso de cores vivas, fortes e vibrantes, as animações são naturais e convincentes e a trilha sonora, mesmo que aparentemente limitada a apenas três faixas (exploração, combate e tema inicial), é bela e – ela sim – condizente com o ritmo lento do jogo.
Lostwinds não é um daqueles jogos que tiveram seu enorme potencial arruinado por vários problemas técnicos. O que na verdade o limitou foi a ausência do desenvolvimento desse potencial. Ele deixa a impressão de que é apenas o inicio de uma ótima aventura. O que lhe falta, portanto, para realmente ser comparado justamente com uma grande franquia é o aprofundamento de suas mecânicas e enigmas, algo que esses grandes jogos sempre fazem com esmero. Por mais que a ausência da pausa no momento do uso do espírito do vento atrapalhe na versão dos dispositivos da Apple, o que realmente limita Lostwinds não é sua execução técnica, mas a escassez de continuidade de seu conteúdo.
por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.
Publicado originalmente em 21 de Setembro de 2011.