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A Espada de Shannara.

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Posted 01/04/2016 by in Fantasia

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Nota:
 
 
 
 
 

2/ 5

Sumário

Genero:
 
Autor:
 
Editora:
 
Idioma Original:
 
Título Original: The Sword of Shannara.
 
Tradução: Ana Cristina Rodrigues.
 
Edição: 2014.
 
Páginas: 544.
 
Capa: Luiz Melo.
 
Resumo:

A Espada de Shannara não se configura uma boa estreia para Terry Brooks. Trata-se de um livro repetitivo e, no mínimo, pouco original. No entanto, agora que Brooks expurgou Tolkien de seu peito, talvez seus próximos trabalhos tenham mais a dizer e não pareçam apenas fanfiction ruim.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
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A Espada de Shannara, livro de fantasia escrito por Terry Brooks, conta uma história clássica de forma despretenciosa. Todavia, o autor peca ao ser incrivelmente repetitivo em sua narrativa e por não conseguir se desprender de sua maior inspiração: O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien.

O protagonista do livro é Shea, um meio-elfo que, certo dia, recebe a visita de um misterioso druida, Allanon, que explica ao jovem que ele é o último descendente do rei élfico Jerle Shannara e, por isso, o único capaz de empunhar a mítica Espada de Shannara. Sua missão é formar uma comitiva, recuperar a arma e destruir o Lorde Feiticeiro.

Já é possível notar pelo nome do vilão o tom leve que permeia a história. Os próprios nomes dos cenários compartilham dessa característica: há o Vale Sombrio, o Reino da Caveira, o Pântano das Névoas. São nomes bem sugestivos, cuja função é definir os lugares. O leitor não irá se surpreender, portanto, ao descobrir que o Reino da Caveira é o lar do vilão e que há muita névoa no Pântano das Névoas. No mesmo sentido, os personagens são apropriadamente caricatos: o vil conselheiro Stenmin, por exemplo, tem um rosto anguloso, fino e tão pontudo quanto a barba negra que frequentemente acaricia, enquanto veste uma túnica escarlate, indicando o perigo que representa.

A história é estruturada, em sua maior parte, de forma episódica. Brooks constrói cada capítulo com um início, um meio e um clímax próprio. Há uma preocupação em descrever os cenários e em estabelecer a atmosfera de cada um. Na cena que transcorre no Pântano das Névoas, por exemplo, a narrativa lenta típica de Brooks é eficaz em captar o desconforto dos personagens, a desorientação dos mesmos e em sugerir que há algo os espreitando. As cenas de suspense do livro sempre crescem de uma inquietação inicial para a confirmação do perigo e finalmente para a ação. É uma estrutura simples, e até certo ponto previsível, mas que funciona muito bem em construir a tensão.

Entretanto, essa tensão é constantemente sabotada pelo exaustivo grau de repetição da narrativa. A Espada de Shannara é narrado em terceira pessoa, mas frequentemente mostra o que os personagens estão pensando ao adentrar a mente deles. É um artifício comum nos livros de Brooks, mas que aqui – seu primeiro romance – encontra-se fora de controle: não é rara a situação em que, após acompanhar em detalhes as reflexões de um membro da comitiva de Shea sobre o estado em que todos se encontram, o leitor se vê imerso na mente de outro membro que, por mais que tenha prioridades diferentes, inevitavelmente repassa os mesmos pontos, para então ler um terceiro membro indagando em voz alta sobre as mesmas coisas para o restante da sociedade.

Na cena do conselho que forma a comitiva de Shea, por exemplo, os eventos que o leitor leu nas últimas 150 páginas são resumidos duas vezes para personagens que não os presenciaram. No instante em que um colega de Shea se pergunta “pela milésima vez” sobre o garoto, o leitor não entenderá o “milésima” como uma hipérbole. Terry Brooks é tudo, menos econômico.

É bem comum na fantasia a premissa de um jovem de uma vila bucólica subitamente se ver no centro de conflitos que vão além de sua compreensão. Normalmente, ainda, é um sábio ancião que encaminha o jovem, avisando-o que cabe a ele – e apenas ele – salvar o mundo.  Brooks falha não porque partiu de um cenário comum no gênero, mas por copiar tudo possível que conseguiu de Tolkien, não construindo nada de único. A Espada de Shannara não compartilha apenas da mesma premissa que O Senhor dos Anéis, como também copia personagens e diálogos, além de estruturar os principais eventos na mesma ordem.

Após Allanon (Gandalf) contar a Shea (Frodo) e a seu irmão de criação Flick (Sam) sobre sua missão, ele parte misteriosamente deixando uma carta instruindo os dois a falar com o guardião Balinor (Aragorn) que esperará por eles em uma taverna. A cena da apresentação do personagem – o rei verdadeiro da cidade de homens que guarda as fronteiras e que é ainda construída contra a face de uma montanha – é igual a que ocorre em A Sociedade do Anel, com direito ao sujeito usar um capuz que esconde seu rosto, levando o protagonista a suspeitar de sua identidade. Não obstante, após o encontro, um “Portador da Caveira” – criaturas sombrias que eram antes homens, mas foram consumidas pelas trevas por sua ambição – ataca a vila forçando-os a fugir. E antes de se encontrar em Culhaven, o reino dos anões – que diferença! – onde sua Sociedade do Anel é formada, Shea ainda se fere mortalmente em batalha, sendo levado desacordado para lá, onde é curado. A partir daí, ele se junta com o anão Hengel (Gimli), os elfos Dayel (Legolas) e Durin (certamente uma piada) e o príncipe do pequeno reino de Leah, Menion (Merry e Pippin juntos), e viajam juntos por debaixo de uma montanha onde perdem um integrante do grupo.

Brooks não usa O Senhor dos Anéis somente como um molde; ele copia e cola situações praticamente na mesma ordem. A influência de Tokien é tão grande que pode ser observada na estrutura narrativa, nos arquétipos utilizados e também na linguagem, principalmente nas escolhas de expressão: “Shea teve certeza de que o homem não somente sabia quem ele era, mas o que ele era, e que saíra da frigideira para cair no fogo”.

Agindo paradoxalmente a sua falta de economia, Brooks pelo menos acerta em condensar a trilogia do Anel em um único volume, partindo para As Duas Torres na metade de seu livro e para O Retorno do Rei no clímax, aglutinando situações, personagens e povos: Rohan e Gondor, por exemplo, são ambos representados pelo povo de Callahorn, cuja cidade de Tyrsis é ao mesmo tempo O Abismo de Helm e Minhas Tirith. Com isso, o autor, ao menos, poupa o leitor de mais livros parecidos.

Afinal, ler A Espada de Shannara torna-se unicamente um jogo de referência, com o leitor a cada momento tentando – e conseguindo facilmente – fazer paralelos com a obra de J. R. R. Tolkien, chegando a perceber, por exemplo, que Brooks coloca Denethor como irmão de Aragorn e sendo aconselhado por Grima Língua-de-Cobra.

O livro sequer pode ser considerado uma boa cópia. Para cada acerto, Brooks comete duas atrocidades. Por um lado, o autor põe que a a mentalidade de ignorar os problemas dos outros e somente se importar com eles quando interferem diretamente na sua vida não é exclusiva dos elfos, mas universal, sendo compartilhada até mesmo pelo protagonista, que só decide agir quando o Portador da Caveira está em sua porta. Dessa forma, o autor expande a força da crítica: não são apenas os elfos os que colocam a vida dos outros em perigo devido ao seu egocentrismo, mas todo mundo. Mas por outro, escreve diálogos profundamente embaraçosos como o “Eu acredito em você, Menion Leah. Agora você precisa se lembrar de acreditar em si mesmo” jogado aleatoriamente na narrativa como uma frase de efeito sem significado algum – afinal, Menion tem fé em suas habilidades – e “…minha vida é de importância secundária” dito por Balinor uma página após a reflexão de que “Balinor era a chave de Tyrsis”.

A Espada de Shannara não se configura uma boa estreia para Terry Brooks. Trata-se de um livro repetitivo e, no mínimo, pouco original. No entanto, agora que Brooks expurgou Tolkien de seu peito, talvez seus próximos trabalhos tenham mais a dizer e não pareçam apenas fanfiction ruim.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

04 de janeiro de 2016.

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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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