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Mass Effect.

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Posted 11/30/2018 by in PC

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Nota:
 
 
 
 
 

2/ 5

Plataforma: , ,
 
Título: Mass Effect
 
Publicador: Electronic Arts.
 
Desenvolvedor: Bioware.
 
Duração Média: 20 horas.
 
Lançamento: 20 de novembro de 2007.
 
Diretor: Casey Hudson.
 
Compositor: Jack Wall, sam Hullick, Richard Jacques, David Kates.
 
Roteirista: Drew Karpyshyn.
 
Resumo:

Mass Effect é um título ambicioso que até consegue criar um universo convincente. Pena que o cerca com uma narrativa desinteressante e uma jogabilidade problemática.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Desenvolvido pela Bioware, Mass Effect é um RPG ambicioso que frequentemente não entrega o que promete. Enquanto sua ambientação em universo de ficção científica é instigante e bem construída, a narrativa deixa a desejar com seus vários problemas morais vazios. Já no campo da jogabilidade, o título oferece mecânicas de combate enervantes e um desequilíbrio gritante em sua curva de dificuldade.

A história de Mass Effect faz parte do gênero Space Opera, com ênfase no escopo da aventura do protagonista, a (o) comandante Shepard: uma oficial que se vê escolhida para representar a raça humana na maior força de elite galáctica, tornando-se uma Specter. No entanto, logo em sua missão de recrutamento, Shepard depara-se com uma raça mecânica, os Geth, cujo plano pode envolver a extinção de toda vida orgânica inteligente no universo. Para impedir isso, a comandante precisa partir em uma aventura para encontrar um Specter desertor, Saren, e descobrir como impedir os Geth.

O universo fantástico apresentado aqui é fascinante, povoado por criaturas distintas e excêntricas, contando, por exemplo, com uma raça que precisa explanar a entonação de suas frases, e outra que parece uma água-viva flutuante, cujos integrantes referem-se a si mesma não somente em terceira pessoa, mas também sem nome próprio, chamando-se de “This One”. O design das criaturas também revela suas aptidões para o combate, em um bom uso de “forma servindo função”: as tartarugas humanoides, Krogans, são grandalhonas e fortes, e seu representante na equipe de Shepard, Wrex, serve consequentemente como um soldado da linha de frente, enquanto as gentis Assaris (humanoides femininas azuis) usam poderem bióticos – um nome de ficção científica para o que é basicamente magia – nos confrontos.

A organização política do universo também é bem desenvolvida, trazendo uma complicação para a raça humana, que é mal vista por estar se proliferando no universo e ganhando poder muito rapidamente. Enquanto isso, os Krogan são enxergados como uma ameaça devido a seu poderio militar, e um conselho político controla os Specters, embora com exagerada cautela e uma pequena dose de preconceito.

 O início do jogo, na chamada Citadel, conta com um preparo de terreno exemplar, escondendo pistas para reviravoltas em conversas de NPCs, como o questionamento de duas pessoas sentadas em um banco aleatório, que parece inofensiva, mas guarda relação com o plano final do vilão.

Enquanto a narrativa está preocupada com o nível superficial de sua trama, ela funciona perfeitamente. É no instante em que ela tenta se aprofundar nos conflitos de seus personagens que a história torna-se insatisfatória. As grandes escolhas que o jogador necessita fazer, por exemplo, não passam de problemas morais vazios. Em determinado momento, Shepard precisa decidir se vai matar um terrorista, levando a explosão de alguns reféns, ou deixá-lo escapar com a dúvida de que ele pode matar um número maior no futuro. É uma questão sem solução, como o famoso dilema do bonde. Não há uma terceira opção, não há desenvolvimento da personalidade dos reféns para gerar apego emocional, ou até mesmo do vilão, o que geraria confiança ou desconfiança nele. A questão apresenta-se da forma como que está, crua e nua e desprovida de significado moral: matar poucos para talvez salvar muitos ou não matar ninguém e talvez causar a morte de muitos? Não dá para saber, e o jogo – e isso é fundamental – não entrega recursos para tornar a questão interessante. Em outras palavras, o jogador não tem com o que trabalhar ao fazer a escolha. O fato de ambas as opções envolverem um “talvez” também não ajuda, tornando tudo ainda mais abstrato.

Para piorar a situação, cada escolha é acompanha de um rótulo “renegade” ou “paragon”: escolher a morte dos reféns para talvez salvar muita gente ganha o primeiro rótulo, enquanto matar ninguém, arriscando mais vidas no futuro, o de “paragon”. O que isso significa? Exatamente igual às escolhas, absolutamente nada. Já é arbitrário que cada escolha seja rotulada da forma que é (imagine se escolher matar uma pessoa com o bonde fosse ser “renegade” e não fazer nada,  “paragon”), já que os títulos parecem ser mais associados a sua postura: agressiva ou passiva. No entanto, ganhar esses rótulos não impacta a jogabilidade, já que toda escolha importante necessariamente ganha um deles, liberando assim uma opção de diálogo correspondente: ao deparar-se com um problema, o jogador que investiu em escolhas “renegade” poderá resolvê-lo da mesma forma que um que escolheu o caminho “paragon”, só… de forma mais agressiva. Em um título como Star Wars, rótulos como o lado negro da força funcionam porque trazem consigo uma carga de mitologia e ideologia. “Renegade”, pelo contrário, não carrega nada, constituindo um sistema inútil.

Também problemáticos são os personagens secundários de Mass Effect, que ganham pouco destaque após suas introduções. Eles não têm missões especiais particulares e durante as normais fazem comentários banais como “This place is a mess”, “Let’s clear this space out” e “We’re not going to find many survivors in this base”. Alguns, como Wrex, podem até ter sua iniciativa para continuar sob o comando de Shepard questionada, visto que seu objetivo já foi completado após sua introdução. Já os diálogos em si variam entre a já mencionada boa excentricidade das espécies alienígenas e momentos de pura tolice, como aquele em que um personagem importante morre comentando sobre a luz do fim do túnel: “No light? They always said there would be a….”. Enquanto isso, os vilões variam entre apenas dois estados: o de estar fazendo aquilo porque está desesperado e o de estar fazendo aquilo porque sofre controle mental, ambos os casos pouco complexos. Como um dos personagens diz para Shepard sobre os antagonistas, complexidade não é o ponto: “Your survival depends on stopping them, not in understanding them”.

É possível conversar com os personagens secundários em sua nave, o que revela um pouco de sua backstory, e até mesmo namorar alguém. No entanto, o jogo confunde biografia com personalidade, tornando os personagens uma Wikipédia de si mesmos.

O sistema de combate que permeia as cenas de ação de Mass Effect não se sai muito melhor. O título é essencialmente um RPG, visto que seus atributos importam muito mais que sua habilidade na batalha: sua mira, por exemplo, é determinada mais por um número abstrato do que pelo movimento do cursor. O jogo, entretanto, tem um sistema de cobertura terrível: sendo acionado automaticamente, ele pode ativar quando o jogador não quer mas apenas se aproxima de uma superfície, ou se recusar a acionar mesmo com Shepard correndo contra ela, levando a mortes desnecessárias.

A curva de dificuldade do jogo, aliás, não é a das melhores. Depois da primeira parte na Citadel, ele abre em algumas missões principais que podem ser resolvidas em qualquer ordem. O problema é que uma delas, que ocorre em Noveria, tem uma batalha final absurdamente mais difícil não somente que sua fase, mas que o restante do jogo inteiro. Como o Mass Effect é um RPG, em que atributos importam muito, ir para essa fase no de primeira ou ir por último faz uma diferença gigantesca. Não somente isso, como a luta em si tem duas partes e salva entre as duas, piorando a situação do jogador que tiver o azar de terminar a primeira parte com algum membro da equipe com pouca vida.

Por fim, o jogo contém grandes sequências de exploração na superfície de planetas inóspitos, o que sempre significa usar o mesmo automóvel para percorrer os mesmos espaços montanhosos, que só mudam de cor e disposição. Algo que perde o apelo rápido.

Mass Effect é um título ambicioso que até consegue criar um universo convincente. Pena que o cerca com uma narrativa desinteressante e uma jogabilidade problemática.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

30 de novembro de 2018.

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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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