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Faca de Água.

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Posted 10/26/2018 by in Suspense

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Nota:
 
 
 
 
 

2/ 5

Sumário

Genero:
 
 
Editora:
 
Idioma Original:
 
Título: Faca de Água.
 
Título Original: The Water Knife.
 
Tradução: Alexandre Raposo.
 
Edição: 2016.
 
Páginas: 400.
 
Resumo:

Faca de Água é uma distopia que impressiona pela caracterização de seu universo, mesmo que a ideia por trás dele seja simples. Se o romance tivesse personagens mais interessantes, porém, essa proposta teria sido bem melhor aproveitada.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Faca de Água, suspense escrito por Paolo Bacigalupi, apresenta uma distopia perturbadora em sua verossimilhança, construída pela falta de água nos Estados Unidos. Entretanto, o romance também traz personagens superficiais, precisando apelar para o choque para conseguir prender a atenção do leitor.

O romance é construído em volta de três pontos de vista principais: o de uma jornalista, Lucy, que precisa descobrir a história por trás do assassinato de um amigo, a de uma jovem mulher, Maria, que deseja sair da área controlada por milícias onde vive, e o faca de água, Angel, um mercenário contratado por empresas privadas para cortar e desviar a água de determinadas regiões.

O universo de Faca de Água é de um futuro não muito distante, em que a água tornou-se escassa o suficiente para ser um ato de ostentação tomar muitos banhos. Mais que isso, os Estados Unidos tornaram-se fragmentados, com sua federalização enfraquecida com as lutas frequentes entre seus estados por direitos sobre rios e outras fontes de água: aqueles que perdem os direitos são relegados à completa miséria e ao desespero de seus habitantes. Assim, floresce o preconceito entre membros de cada estado, com “texanos”, por exemplo, sendo usado de forma pejorativa, como se tratasse de um povo inferior.

Bacigalupi, entretanto, não é sutil ao trabalhar com esses elementos. O alerta sobre o aquecimento global que o cenário deveria trazer sozinho é verbalizado mais de uma vez pelos personagens, que lamentam que não perceberam ou não acreditaram que aquilo poderia acontecer. Em alguns momentos, o alerta é até inspirado, como na lamentação de que pesquisas científicas passaram a ser duvidadas (“Se eu fosse capaz de destacar o momento em que realmente nos fodemos, diria que foi quando decidimos que os dados eram algo que poderíamos conjugar com palavras como crença e descrença”), mas a maioria vai direto ao ponto.

Nesse ambiente turbulento, dominado por grandes corporações que controlam os direitos de água, obviamente privatizada, Lucy tenta investigar o assassinato de um amigo. Na verdade, ela “precisa” investigar, visto que sua única característica marcante é o fato de que ela procura a verdade acima de tudo, inclusive da própria segurança, o que Bacigalupi coloca em uma frase de efeito clichê: “Ela não queria segurança. Ela queria a verdade”. O livro, aliás, está cheio de frases assim, com o intuito de causar impacto. O que também se reverte para o tipo de situação em que os personagens eventualmente se encontram: estupros, mutilações, tortura física e psicológica são elementos comuns na trama dos três personagens, principalmente na de Maria.

Enquanto Lucy e Angel rapidamente se encontram em suas investigações particulares, a trama de Maria permanece isolada até o final, sendo estruturada por uma cadeia de momentos de sofrimento e quebra de esperanças. Vivendo sob o domínio de milicianos e, portanto, sem a escolha de ir embora ilesa, a jovem vai descobrindo que esse domínio é cada vez mais terrível e esmagador. Eles são comparados a hienas em um dos melhores e mais atmosféricos capítulos do livro, como feras dominadores à espreita de sua próxima presa – e seu líder a um demônio –, mas tais comparações, infelizmente, são repetidas à exaustão, diminuindo o impacto.

Então, temos Angel, um mercenário que não sai do estereótipo do homem durão marcado pela violência que causa e que foi causada nele, sendo capaz de momentos pontuais de gentileza com pessoas que considera inocentes. Os personagens do romance praticamente não tem arco narrativo e mal possuem agência durante boa parte da narrativa, sendo jogados de um lado para o outro pelos eventos, o que funciona melhor no caso de Maria, pois reforça a impossibilidade de sua escapatória.

A investigação em si não traz muitas surpresas, trabalhando com poucos elementos, o que deixa fácil para o leitor prever algumas das reviravoltas. No entanto, mostra-se consistente com o tema da história, trabalhando com o ódio e a ganância do ser humano em condições adversas.

Por último, vale apontar a infelicidade de um paralelo entre uma cena de sexo e um estupro realizado no livro por ocorrerem em capítulos seguidos. O problema reside no fato da cena de sexo ser basicamente uma fantasia de dominação masculina, com direito a mulher ficar excitada ao olhar para a arma de fogo do sujeito, além, obviamente, de estar molhada sem ele precisar fazer nada, apenas ao observar suas cicatrizes e seu corpo, entregando-se totalmente ao domínio do homem. Isso ser imediatamente colado a um estupro entrega à cena uma carga de negatividade e repulsa que ela certamente não teria sozinha.

Faca de Água é uma distopia que impressiona pela caracterização de seu universo, mesmo que a ideia por trás dele seja simples. Se o romance tivesse personagens mais interessantes, porém, essa proposta teria sido bem melhor aproveitada.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

26 de outubro de 2018.

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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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