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Beemote: A Revolução.

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Posted 10/11/2018 by in Infantojuvenil
Beemote - A Revolução - Capa do Livro

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Nota:
 
 
 
 
 

3/ 5

Sumário

Genero: ,
 
Autor:
 
Editora:
 
Idioma Original:
 
Título Original: Behemoth
 
Tradução: André Gordirro
 
Páginas: 429
 
Resumo:

Beemote é uma continuação que não traz muito de novo para a narrativa, embora trabalhe bem alguns de seus elementos. Trata-se de uma sequência segura, repetindo muitas das estratégias narrativas do volume anterior.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Se Leviatã era uma ficção infantojuvenil sem muitas pretensões que cumpria bem seu papel de entretenimento descompromissado, sua continuação Beemote: A Revolução não pretende ser mais ambiciosa, contando uma história que aparenta ser apenas um adendo no grande esquema narrativo da trilogia.

A trama segue uma pausa em nas viagens do príncipe Alek e da garota Deryn Constantinopla, enquanto tentam descobrir para qual lado da guerra a cidade irá pender. Se Alek deseja encontrar ajuda para enfrentar os alemães e retomar seu trono de direito na Áustria, Deryn precisa incentivar o sultão local a tornar-se Darwinista, mesmo com uma suposta traição de Winston Churchill dificultando as relações diplomáticas com a Inglaterra.

A posição política da cidade é um dos elementos iniciais de suspense da história. Todo o simbolismo visual da aliança do sultão com os Mekanistas, por exemplo, injeta tensão na cena em que Deryn vai assistir a uma tentativa de compra de interesses e depara-se com um enorme autômato atrás do sultão repetindo seus movimentos. Ou seja, não somente a aliança com o inimigo já está formada, como parece ser menos um caso de cooperação e sim de dominação. Dessa forma, a sensação de perigo pelos personagens cresce assim que entram na sala, por todos saberem que seus planos já nasceram arruinados. Assim, com a inimizade já estabelecida resta arranjar um jeito de contra-atacar.

Um dos problemas do livro, todavia, é justamente o fato de que há mais sequências de ação do que história permeando a narrativa, o que funcionaria melhor num filme do que num romance. Não há mais reviravoltas ou revelações impactantes depois dessa, que ocorre antes da metade. Assim, se Beemote é um livro repleto de set pieces, ele também é um livro bem estático em termos de desenvolvimento narrativo, o que impacta negativamente as mesmas sequências de ação: se elas não mudam o panorama da história, elas apenas servem como uma injeção temporária de adrenalina.

Deryn é uma personagem que pouco muda do primeiro livro. Além de continuar com seus “berrantes” e “tapados”, permanece mostrando-se proativa e pragmática, chegando a pouco hesitar em abandonar seus colegas militares quando são capturados, pensando no melhor da missão. Ela até mesmo furta uma garrafa e não se importa com a imoralidade do ato, por acreditar que este é justificado. Reflete ela: “Isto era roubo, puro e simplesmente, mas ela precisava de algo para trocar por dinheiro e uma refeição decente. Esse velho conhaque empoeirado era a melhor coisa que conseguiu encontrar”.

Sua relação com Alek é marcada por momentos de rivalidade (“Mas Deryn não se deixaria superar por um príncipe esnobe qualquer”), e momentos em que esta é aplacada por pena: ao perceber as lágrimas de orgulho nos olhos do menino, “Deryn quase sentia vontade de deixa-lo vencer”. O carinho entre dois cresce exponencialmente só não se efetivando como romance por Deryn fingir ser Dylan, um menino – artifício que, se era pouco utilizado em Leviatã, aqui é responsável pela excelente ambiguidade de uma cena de beijo.

O machismo de Alek, por sinal, é uma de suas características que mais se tornam aparentes em Beemote. Em determinada cena, por exemplo, Alek confunde uma menina por um garoto por considerá-lo alerta, forte e capaz. Ironicamente, isso ainda ocorre logo após ele se perguntar qual é o segredo que seu melhor amigo, Dylan, está guardando dele. Logo depois, ele manifesta irritação com a quantidade de mulheres presentes na revolução local contra o Sultão de Constantinopla, revelando sua fragilidade masculina ao expor um medo recalcado de ser inferiorizado por mulheres. Em uma ótima reflexão, Deryn percebe como sua quebra de posição de gêneros, e a da garota confundida por Alek, é uma ruptura positiva naquela sociedade, considerando-a uma “forma esplêndida de anarquia”: garotas podem ser fortes, ágeis e sagazes e… continuarem sendo garotas.

Não obstante, a jornada do príncipe herdeiro guarda muitas semelhanças com a de Deryn, tanto em seu objetivo de conseguir ajuda dos revolucionários locais quanto em seus artifícios, como arranjar um nome falso, por exemplo. No entanto, ele é um personagem com um arco narrativo menos definido que no primeiro livro, passando o posto de protagonista para Deryn.

Já algo que permanece similar é o ponto de vista, que, seletivo, alterna entre os dois personagens como foco narrativo, oferecendo, assim as perspectivas dos dois sobre os acontecimentos.

Beemote, portanto, é uma continuação que não traz muito de novo para a narrativa, embora trabalhe bem alguns de seus elementos. Trata-se de uma sequência segura, repetindo muitas das estratégias narrativas do volume anterior.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

11 de outubro de 2018.


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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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