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Middle-Earth: Shadow of Mordor.

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Posted 02/09/2016 by in PC

Rating

Nota:
 
 
 
 
 

2/ 5

Plataforma: , , , ,
 
Publicador: Warner Bros Interactive Entertainment.
 
Desenvolvedor: Monolith Productions.
 
Duração Média: 18 horas.
 
Lançamento: 30/09/2014.
 
Diretor: Michael de Plater.
 
Compositor: Garry Schyman, Nathan Grigg.
 
Roteirista: Christian Cantamessa.
 
Resumo:

Middle-Earth: Shadow of Mordor, muito provavelmente, só será lembrado por introduzir um sistema que muitos outros jogos aproveitarão bem melhor.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Baseado na famosa obra de J. R. R. Tolkien, Middle-Earth: Shadow of Mordor é um jogo que não aproveita o próprio potencial. Sua trama principal é abandonada na metade em prol de outra mais fraca, enquanto sua jogabilidade é construída de tal forma que anula as vantagens de seu sistema mais inovador.

A história de Shadow of Mordor transcorre entre os acontecimentos de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, quando Sauron retoma o controle de Mordor, expulsando os homens de Gondor da região. O protagonista é Talion, um guardião que realizava sua vigia nos portões de Mordor quando as forças de Sauron invadiram o local, assassinando-o junto com sua família. Talion, todavia, permanece naquele mundo, pois o espírito de um misterioso elfo possui seu corpo e o ressuscita.

A jornada de Talion é pautada pela vingança. Ele deseja matar seus algozes – a Mão, a Torre e o Martelo de Sauron – e depois partir para ficar junto de sua família. No entanto, ele também precisa ajudar o elfo que habita seu corpo a descobrir a própria identidade – sim, o espírito sofre de amnésia – e salvar os guardiões restantes que continuam resistindo no lugar.

Shadow of Mordor tem um início econômico e extremamente eficaz em capturar a atenção do jogador, pois une tutoriais com desenvolvimento de personagem. Uma das primeiras missões, por exemplo, demonstra o carinho que Talion sente por sua esposa, ao mesmo tempo em que ensina ao jogador os comandos básicos de furtividade, ao colocar como objetivo “Stealth kiss your wife“. Do mesmo modo, as mecânicas de combate são apresentadas enquanto o protagonista treina seu filho. Com isso, após o massacre, o jogador é capaz de compartilhar da dor do protagonista e compreender o escopo de seu ódio.

O mesmo, no entanto, não pode ser dito sobre o elfo que acompanha Talion. O segundo ato do jogo não desenvolve mais o guardião, mas revela o passado do espírito por meio de vários flashbacks. A história de Talion, então, é deixada de lado em troca de uma extremamente similar, já que o elfo também está em busca de vingança.

A trama envolvendo o elfo é construída para servir como um elo com O Senhor dos Anéis, uma vez que envolve a criação dos Anéis do Poder, enquanto realiza um paralelo entre a jornada do misterioso personagem e a do protagonista. O problema é que o roteirista, Christian Cantamessa (Red Dead Redemption), parece muito mais interessado no elfo que no guardião. Talion é abandonado durante grande parte do jogo: após a introdução, o roteiro se contenta em colocá-lo matando orcs aleatórios e em torná-lo poderoso, sem explorar nenhum aspecto de sua personalidade. O jogador não descobre absolutamente nada novo sobre o guardião e o próprio Talion não se depara com nenhum conflito que teste suas crenças e motivações: orcs mataram sua família e ele, em troca, mata orcs. Simples assim.

Não obstante, a história do elfo também não guarda muitas surpresas. Em primeiro lugar, ela é apresentada por intermédio de uma estrutura artificial e absurda, infelizmente típica em jogos de videogame: as memórias são “acionadas” por meio de objetos específicos encontrados em determinadas missões – e são, obviamente, adquiridas em ordem cronológica e fragmentadas no exato número de objetos existentes. Em segundo, todo o mistério envolvendo a identidade do sujeito é rapidamente deduzido por qualquer fã da franquia, o que torna o suspense cansativo – também não ajuda que a campanha de marketing do jogo tenha revelado o nome do espírito, ignorando que tal informação é escondida por várias missões. Entretanto, nem mesmo com aqueles que entram na história sem qualquer conhecimento prévio, ela tem potencial de funcionar, visto que, como se assemelha muito com a jornada de Talion, mas é contada depois, ela soa consideravelmente repetitiva. Ou seja, Shadow of Mordor causa a impressão de ter lidado de forma econômica com a tragédia do guardião somente porque repetiria tudo de novo depois.

Além disso, como a trama do elfo não apresenta diferenças suficientes da principal – uma das únicas mudanças é o contexto da tragédia, que em nada influencia sua relação com o guardião – ela acaba não assumindo uma função narrativa importante: não cria qualquer tipo de conflito ou oposição de ideias entre os dois personagens. Dessa forma, o roteirista torna difícil para o jogador identificar-se com o elfo com a mesma intensidade com que ele o faz com o protagonista.

A estrutura narrativa de Shadow of Mordor ainda apresenta outros problemas. O mago Saruman, por exemplo, faz uma breve aparição no pequeno clímax de uma das missões, mas após seu término não é mais mencionado. Sua aparição, portanto, soa gratuita para os fãs e ilógica para aqueles que não conhecem o personagem. Já a guerreira Lithariel, que surge como uma personagem feminina teoricamente forte no início, sucumbe eventualmente ao clichê da donzela em perigo, chegando ao cúmulo de ser carregada no colo por Talion em certo momento.

Shadow of Mordor comete um crime maior em seu clímax, em que, não contente em resumir a batalha final a uma tosca sequência de quick time events (“mova o direcional até o círculo”), ainda trai o que havia sido estabelecido até em tão para o protagonista: Talion desiste de um dos pontos de seu plano só para o jogo conseguir ter uma continuação direta.

Em suma, quanto à história, a equipe da Monolith Production percorre caminho comum e ainda assim tropeça. No entanto, quanto à jogabilidade, a desenvolvedora, pelo menos, tenta apresentar alguma novidade, mesmo que não alcance resultados satisfatórios.

O grande chamariz de Shadow of Mordor é um sistema chamado “Nêmeses”. Graças a ele é possível estudar a cadeia de comando dos orcs de Mordor, observando as peculiaridades de cada capitão e general. Esse sistema confere identidade aos inimigos do jogo, entregando a eles nome próprio, além de fraquezas e atributos únicos. É possível identificar, ainda, a relação que mantêm entre si, ou seja, se estão brigando pelo mesmo território ou se protegendo.

Com isso, o sistema Nêmeses insere energia no universo do jogo, pois faz seus elementos interagirem uns com os outros, independentemente da atuação do jogador: orcs entram em guerra e se matam, modificando a cadeia de poder, mesmo se Talion nada fizer. Ele até contextualiza a derrota do jogador, pois os orcs lembram de ter derrotado Talion e são promovidos pela conquista. Essa independência, portanto, fascina justamente por deixar a impressão de que aquele universo está vivo.

Todavia, o jogador não é estimulado a interagir com esse sistema. Isoladamente, ele é excelente: o jogador precisa interrogar certos inimigos para descobrir informações sobre os capitães – se eles são vulneráveis a fogo ou se tem medo de criaturas selvagens, por exemplo – e, então, caçar esses orcs, usando o conhecimento sobre suas fraquezas para vencer o combate. Contudo, na prática, esse sistema é sabotado por outro.

Afinal, para o combate Shadow of Mordor pega emprestado as mecânicas da franquia iniciada por Batman: Arkhan Asylum. Ou seja, um sistema de contragolpes, combos e movimentos de finalização. Em Batman, porém, essas mecânicas de combate servem para mostrar a superioridade do personagem: por meio dos contragolpes invencíveis, o objetivo no jogo é derrotar a maior quantidade de inimigos, levando o menor dano possível para não interromper o combo e conseguir usar um coreografado e empolgante movimento de finalização. Aplicar esse sistema a Shadow of Mordor é um desastre porque torna Talion igualmente invencível. Assim, se o jogador não toma dano facilmente, por que ele se daria o trabalho de procurar as fraquezas de um orc? Basta usar os contragolpes até o movimento de finalização. Estratégia que funciona, basicamente, com todos os inimigos do jogo – os raríssimos que são imunes podem ser tratados de outra forma muito simples, usando as mecânicas de furtividade.

Nesse quesito, Shadow of Mordor já copia Assassin’s Creed, apresentando sua própria versão da “Visão de Águia” dos Assassinos, contextualizando-a pelos poderes do espírito élfico. Com ela, observa-se a silhueta colorida dos inimigos por detrás de estruturas e, após se aproximar deles, basta derrubá-los furtivamente com o aperto de um botão.

Aliás, muito Shadow of Mordor pega emprestado da franquia da Ubisoft, como um mapa repleto de colecionáveis inúteis, pequenas missões secundárias para distrair o jogador da principal, a divisão do cenário por quadrantes que podem ser descobertos após o jogador subir em torres específicas e observar a paisagem, e até mesmo certas animações do protagonista são estranhamente similares às de Assassin’s Creed. Shadow of Mordor, porém, também sofre do mesmo mal que assola a franquia da Ubisoft, com seus sistemas entrando em conflito e produzindo uma experiência sem foco que se auto sabota.

Contendo uma história tão decepcionante quanto sua jogabilidade, Shadow of Mordor muito provavelmente só será lembrado por introduzir um sistema que muitos outros jogos aproveitarão bem melhor.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

09 de fevereiro de 2016


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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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