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Stick it to the Man.

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Posted 03/23/2018 by in PC

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Nota:
 
 
 
 
 

2/ 5

Plataforma: , , , , , ,
 
Título: Stick it to the Man.
 
Desenvolvedor: Zoink Games.
 
Duração Média: 4 horas.
 
Lançamento: 13/12/2013
 
Diretor: Andreas Beijer.
 
Compositor: Joel Bille.
 
Roteirista: Ryan North.
 
Resumo:

No fim, Stick it to the Man é um jogo que transborda em estilo, mas que teria seria beneficiado grosseiramente de uma abordagem menos condescendente ao elaborar sua jogabilidade e contar sua história.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Com uma arte peculiar, que mescla dioramas com o traço grotesco típico de Tim Burton, Stick it to the Man é um point and click adventure que aposta no absurdo para entreter o jogador. Contudo, tanto o design de seus enigmas quanto o humor que permeia sua história são marcados pela repetição e pela condescendência, desperdiçando o potencial de seu curioso visual.

O protagonista do título é um jovem chamado Ray que, um dia, é acertado por um misterioso objeto e acorda com a habilidade de ler a mente das pessoas, graças a um braço rosa mágico que agora sai de sua cabeça. Com isso, ele acaba sendo perseguido por uma organização secreta, embora sua preocupação maior seja apenas conseguir reencontrar sua namorada em casa.

O visual de Stick it to the Man é, sem dúvidas, seu melhor aspecto. Trazendo personagens e cenários feitos de papelão, cada estágio do jogo surge como um diorama único. Além disso, o design dos personagens é inquietante: pintados com uma palheta de cor mais escura, em que o roxo predomina, com membros muito alongados, desproporcionais e assimétricos, e repletos de detalhes exagerados e inverossímeis, eles surgem tenebrosos e memoráveis.

Os enigmas com que Ray se depara também sempre descambam para o absurdo. Um exemplo: ao fazer um filho salvar seu próprio pai, que tinha inflado como um balão, a boca desse pai transforma-se em um adesivo chamado “Mouth of a appreciative dad” que, então, pode ser usada para substituir a boca de um pai mais rigoroso e rude, tornando-o mais carinhoso com o filho. Assim como Paper Mario: Sticker Star, Stick it to the Man acerta ao aplicar sua lógica visual na jogabilidade: como no título da Intelligent Systems, o universo ser constituído por papel permite que colar adesivos em elementos do cenário os modifica concretamente. Assim, grudar um adesivo de dentes de jacaré em um cachorro, por exemplo, de fato faz o animal passar a ter dentes de jacaré.

No entanto, apesar desses resultados serem inventivos, o processo para chegar até eles é o oposto. Talvez por serem muito insanos, os desenvolvedores devem ter ficado com medo de que seus enigmas acabassem exigindo pulos de lógica grande demais: só essa hipótese explica o excesso de condescendência que domina o design de todos eles. Certo puzzle, por exemplo, exige que o jogador entregue algo de comer para um jacaré, mas ele não precisa se dar ao trabalho de descobrir o que exatamente, pois o animal especifica com todas as letras o que quer: carne humana. O desafio, então, seria onde encontrar carne humana sobrando? Não, pois um cozinheiro que trabalha uns dez passos de distância do jacaré alega gostar de usá-la como ingrediente, sobrando apenas resolver o problema do cozinheiro para conseguir o adesivo da carne. O problema desse cozinheiro, por sua vez, segue a mesma lógica do anterior, com ele especificando o que quer e outro personagem claramente tendo aquilo. E assim por diante. No máximo, o jogador vai se deparar com uma metáfora básica, como lágrimas representando tristeza. Ou seja, não há raciocínio envolvido na solução dos enigmas em Stick it to the Man. Não é nem uma questão de dificuldade: não se trata de enigmas fáceis, porque eles sequer se constituem enigmas, mas tarefas. Não é preciso pensar, apenas seguir o fluxo da ordem de ações apropriada.

A mesma condescendência é aplicada ao humor. Um psicólogo charlatão que Ray encontra, por exemplo, revela sua charlatanice ao responder “And how does that make you feel?” depois de qualquer comentário de seu paciente. Ler a mente dele, então, revela algo como “It’s great that I can answer ‘And how does that make you feel?’ to every question”, basicamente repetindo e explicando uma piada que já era repetitiva e pouco sutil. Mais tarde, o mesmo psicólogo exclama, após hipnotizar o protagonista e surgir no subconsciente dele: “Science! It allows you to do things like this!”. Não satisfeito, o personagem explica a piada, ressaltando a ironia de sua construção anterior: “Yes, I certainly am glad this is how science actually works”. Isso é um padrão no jogo. Quando Ray salva uma das renas do Papai Noel, ele exclama “Christmas is saved!”. E aí explica: “Not Christmas, the reindeer. That is not named Christmas. His name is Rudolph”.

Quando a narrativa não está ocupada explicando todas suas piadas, ela chega a tratar de assuntos pesados, como suicídio, assassinato, assédio e opressão social, o que combina com sua estética sombria. Ray, entretanto, não se mostra um protagonista interessante: ele só quer voltar para casa para encontrar sua namorada, não acrescentando nada tematicamente aos conflitos e dramas que presencia. O fato de duas vezes seu subconsciente ser explorado literalmente e ainda assim e ele se configurar um personagem plano e raso é problemático, servindo como símbolo da superficialidade que permeia todo o roteiro. A habilidade de ler mentes é particularmente sofrível, já que os pensamentos dos personagens geralmente são uma paráfrase de seus diálogos anteriores, tornando a habilidade uma ferramenta repetitiva.

Já o trabalho de dublagem do título acerta parcialmente: os exageros na entonação casam com o exagero visual, mas em alguns casos pecam na composição do personagem. O protagonista, por exemplo, soa como um idiota, com uma entonação aguda e dissonante que trabalha junto com seus comentários superficiais para testar a paciência do jogador.

No fim, Stick it to the Man é um jogo que transborda em estilo, mas que teria seria beneficiado grosseiramente de uma abordagem menos condescendente ao elaborar sua jogabilidade e contar sua história.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

23 de março de 2018.

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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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