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Bayonetta 2.

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Posted 02/28/2018 by in Switch
Bayonetta 2 - Cover Wii U

Rating

Nota:
 
 
 
 
 

4/ 5

Plataforma: ,
 
Título: Bayonetta 2.
 
Publicador: Nintendo.
 
Desenvolvedor: Platinum Games.
 
Duração Média: 20 horas.
 
Diretor: Yusuke Hashimoto
 
Compositor: Masami Ueda, Naofume Harada, Hiroshi Yamaguchi, Norihiko Hibino, Takahiro Izutani, Satoshi Igarashi, Hitomi Hurokawa, Takayasu Sodeoka, Rei Kondoh, Naoto Tanaka.
 
Roteirista: Hideki Kamiya, Bingo Morihashi.
 
Resumo:

Bayonetta 2 é uma sequência exemplar, aprimorando os pontos fortes do original e consertando muito do que ele errava. Trata-se de um jogo de ação único, cuja irreverência e insanidade ainda estão para serem ultrapassadas.

by Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo
Full Article

Mais insano, frenético e complexo que o primeiro, Bayonetta 2 é um jogo de ação único, trazendo uma heroína marcante, uma trama absurda e um sistema de combate variado e envolvente. Permanecendo preso por uma narrativa problemática, mas corrigindo vários tropeços do título anterior, o jogo chega perto de elevar a franquia a um patamar de excelência.

A história de Bayonetta 2 tem início quando uma amiga da protagonista, Jeanne, é atacada  fatalmente por um demônio que saiu do controle da bruxa e, assim, tem sua alma levada para o inferno. Em sua jornada para resgatar Jeanne, Bayonetta depara-se com um misterioso jovem chamado Loki, que está sendo perseguido por um sacerdote mascarado. Dessa forma, a protagonista descobre que precisa salvar tanto a amiga quanto o garoto, que, pelo menos, pretende viajar para o mesmo lugar que ela.

Bayonetta permanece se configurando uma personagem fascinante com sua apresentação ousada. Sua sexualidade é uma forma de expressão, seus ataques formam uma dança sensual de dominação e seus diálogos configuram provocações incessantes. Ela parece atuar num estranho limiar entre a objetificação e a independência, aceitando o olhar masculino lascivo que a câmera lança sobre ela, mas apenas para subvertê-lo depois. Ao compelir que ele se vire para seu corpo, Bayonetta está desafiando esse olhar masculino, pois age com uma postura de autoridade, permitindo que ele ocorra. Ou seja, ela não está simplesmente aceitando esse olhar, submissa, mas, ao quebrar a quarta parede e reconhecer sua existência, ela está reforçando que é ela quem está no controle da situação. Assim, ela faz um olhar geralmente imposto a personagens femininas, e que retira dessa imposição grande parte de sua capacidade de objetificar, ser subitamente reconhecido e provocado. Em outras palavras, ela subverte esse olhar masculino ao conseguir um certo empoderamento justamente a partir dele usando a própria arma do machismo contra ele mesmo: esse olhar, não sendo mais imposto, é convidado a cair em uma armadilha, dando controle à personagem.

Além disso, essa postura da personagem configura um ato de resistência ainda mais fundamental por significar que ela não está abrindo mão de sua sexualidade: não é porque o ato de sexualizar o corpo feminino pode ser encarado como uma arma de dominação masculina que Bayonetta precisa rejeitar a própria sexualidade para manter-se forte. Pelo contrário, a personagem abraça seu lado dominante e usa-o como um símbolo de autoafirmação.

Logo na cena de abertura, a bruxa surge na frente de uma loja chamada Wonder Toys e o enquadramento que coloca seu rosto cobrindo a letra T facilmente poderia ser visto com um símbolo de sua objetificação: ela seria o brinquedo maravilhoso do jogador. No entanto, como também ocorre no título anterior, a personagem ultrapassa essa análise superficial. Afinal, ela permanece sempre fora da loja, enquanto seu empregado compra um avião – com formato fálico – e ainda pede o maior possível. Ou seja, o brinquedo não é mais a Bayonetta, mas dela. No mesmo sentido, quando o galanteador jornalista do primeiro jogo, Luka, tenta agarrá-la, suas mãos tocam o vazio, passando direto pelo corpo da bruxa, que se revela imaterial: homens podem tentar possuí-la, mas Bayonetta é intangível.

Enquanto a protagonista não está destruindo as bases comuns de análise do olhar masculino, Bayonetta está ocupada acabando com anjos, dizimando demônios e surfando redemoinhos voadores. Bayonetta 2 aumenta ainda mais o nível de loucura da franquia: a personagem luta contra anjos em cima de jatos que sobrevoam um centro urbano, depois um monstro em um trem desgovernado e termina combatendo um dragão em um arranha-céu durante o pôr do sol, tudo isso somente no prólogo do jogo. Antes da metade, ela estará duelando contra o sacerdote mascarado na barriga de uma enorme besta, envolta por rios de sangue, enquanto um gigantesco anjo confronta um igualmente gigantesco demônio no fundo. Com relação a set pieces, o título certamente é uma referência no gênero.

O mesmo pode ser dito sobre o sistema de combate, que deixa Bayonetta sempre móvel, dançando enquanto acaba com seus inimigos: ela chega a usar a lança de um oponente como uma barra de pole dance. Com centenas de combinação de combos entre as mais variadas armas que podem ser equipadas nas mãos e nos pés da personagem, o título permite que jogadores veteranos tenham um arsenal variado à disposição e que os novatos não se sintam intimidados, pois praticamente qualquer combinação tem algum efeito destrutivo. O que separa os dois é conhecer a velocidade, o dano e o alcance de cada combo e usar isso para melhorar a pontuação de cada batalha, que é avaliada em três pontos: a extensão do combo, o tempo que tudo levou e o dano tomado.

Quanto a esse último ponto, a esquiva de Bayonetta permanece sua mecânica fundamental, parando o tempo quando usada no timing correto, deixando qualquer inimigo aberto para ser atacado. Enquanto isso, um sistema foi adicionado à barra de magia da personagem: se antes ele era usado para ataques de tortura – cujo sadismo cômico leva Bayonetta a chicotear a bunda de um anjo prestes a ser guilhotinado – agora é possível usá-la também para aumentar a força e o alcance dos ataques comuns, que paralisam os inimigos, incluindo chefes. Outro ponto positivo é a ausência de quick time events, que no título anterior podiam arruinar uma boa pontuação com apenas um erro do jogador. Aqui, em determinadas cutscenes, o jogador ainda deve apertar o botão de esquiva, mas não é mais punido com uma morte direta caso falhe.

Já a história ainda está longe de ser boa, embora realmente represente uma melhora em comparação com a do primeiro. Ela acerta, por exemplo, ao se levar ainda menos a sério, trazendo diálogos ainda mais irreverentes, com destaque para as piadas envolvendo o sacerdote mascarado: Loki chega a se referir ao embate frequente do sujeito com Bayonetta como uma briga de casal, em uma comparação que se torna ironicamente perturbadora quando a identidade do antagonista é revelada. Um ponto mais fundamental é a história tomar menos tempo, com cutscenes breves e pouco frequentes no meio das fases, raramente travando o ritmo do jogo, que, por sua vez, é bem melhor trabalhado, com mistérios sendo frequentemente introduzidos e resolvidos, além dos objetivos da protagonista evoluírem ao longo da trama.

Além disso, a história ainda se preocupa em consertar o vilão do primeiro, Balder, tornando-o uma figura menos unidimensional e mais trágica, e acerta em trazer algumas rimas interessantes: o tema da dualidade é representado pela divisão física do vilão, pelo par Bayonetta-Jeanne, pela união entre demônio e anjo no clímax, e pela complexidade conferida a Balder, que anteriormente ainda dividia seu rosto com uma máscara. No mesmo sentido, as cutscenes estáticas, como quadrinhos, recebem um tratamento especial, dividas pelo ponteiro de um relógio, que reflete a corrida contra o tempo pra salvar Jeanne e o tema de “retorno ao passado” que percorre a jornada de alguns dos personagens.

Contudo, a própria Bayonetta não apresenta qualquer arco narrativo – um problema grave, por se tratar da protagonista – e alguns temas, como a importância do livre arbítrio, são simplesmente jogados na narrativa sem qualquer tipo de preparo, falhando em causar qualquer impacto.

Por outro lado, a trilha sonora do jogo, produzida por mais de dez compositores, é um acerto total: ela continua capturando a personalidade de Bayonetta, embalando os combates comuns com uma música enérgica e dançante, com vocais que exaltam a força da personagem, e contrastando essa alegria com o grandioso das melodias dos confrontos mais importantes, cujos temas agora revelam uma natureza dinâmica, que vai aumentando de potência ao longo da batalha.

O clima de festa estende-se também para os acessórios, que incluem roupas temáticas da Nintendo que variam entre um efeito cosmético cômico – como assistir as cutscenes com Bayonetta vestida de princesa Peach e a seus golpes transformarem-se no punho do Bowser – e a capacidade de alterar levemente a jogabilidade: usar a roupa temática de Star Fox na última fase, por exemplo, transforma o jato pilotado em uma Arwing e os comandos são modificados para simular os do título da Nintendo.

Bayonetta 2 é uma sequência exemplar, aprimorando os pontos fortes do original e consertando muito do que ele errava. Trata-se de um jogo de ação único, cuja irreverência e insanidade ainda estão para serem ultrapassadas.

por Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo.

28 de fevereiro de 2018.

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Rodrigo Lopes C. O. de Azevedo


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