Brothers: A Tale of Two Sons.
Desenvolvido pela Starbreeze Studios, Brothers: A Tale of Two Sons é uma aventura tocante, cujos elementos dramáticos e fantásticos emocionam e fascinam na mesma proporção. Com uma jogabilidade simples e funcional que reflete a relação mantida entre os personagens principais, Brothers é um jogo que falha apenas em um momento: a reviravolta que leva ao clímax, além de previsível, não se conecta ao tema geral da história.
O início do jogo é pautado por tragédias. Após um acidente de barco, um menino tenta trazer uma mulher de volta a bordo, mas seus músculos são incapazes de segurá-la por muito tempo. Anos depois, ele encontra-se na beira de um penhasco ao lado de uma árvore, contemplando o túmulo de sua mãe, quando seu irmão mais velho surge suplicando por ajuda: o pai deles está passando mal e precisa ser levado até o ancião da vila. O sábio, entretanto, explica aos garotos que não pode iniciar o tratamento, pois a única cura reside em uma longínqua árvore mágica. Eles, então, partem imediatamente em busca dela.
A jogabilidade de Brothers é única, simulando a dinâmica entre os personagens principais. Cada irmão é controlado por um analógico do controle: o mais velho pelo esquerdo e o mais jovem pelo direito. Além disso, os gatilhos servem como um botão de ação para cada um.
Esse arranjo resulta em um jogo que é ao mesmo tempo singleplayer e cooperativo. A primeira tarefa do jogador é locomover o pai dos garotos em um carrinho de mão, mas eles estão segurando cada ponta e precisam ser movidos em sintonia. Ao chegar a um elevador cuja alavanca de ativação está em uma plataforma elevada, o jogador tem que posicionar o mais velho de forma a dar apoio para o outro pular, alcançar a beirada da plataforma e acionar o dispositivo.
Os desafios do jogo são todos elaborados em torno da cooperação entre os dois personagens. Até mesmo os eventuais embates contra os “chefes de fase” não fogem dessa diretriz: um troll, por exemplo, requer que o mais jovem coloque-se como isca, correndo de um lado para o outro atraindo o monstro, enquanto seu irmão ativa uma armadilha no tempo certo – ações que são realizadas ao mesmo tempo pelo jogador. A lógica desses puzzles é delimitada pelas características de cada irmão: o mais novo, por se magro, consegue passar por meio de grades, por exemplo, enquanto o mais velho é capaz de pular mais alto e empurrar objetos pesados.
Já a personalidade deles é construída a partir de suas interações com o cenário – realizadas pelo botão de ação. Eles reagem às mesmas situações de forma diferente: o irmão mais velho, marcado por sua roupa azul, surge sempre centrado em seu objetivo, mostrando seu mapa às pessoas e pedindo indicações. Ele também age de forma atenciosa, ajudando estranhos sempre que pode, seja varrendo o chão para uma moça ou parando para cuidar das plantas junto a um jardineiro. Por outro lado, o mais jovem, de laranja, só quer saber de brincadeira: ele tenta equilibrar a vassoura da mesma moça na palma da mão e ainda desfere uma tapa na bunda do jardineiro. Todavia, é ele e não seu irmão quem decide abrir a gaiola de um pássaro para libertá-lo e que se mostra mais hábil no manejo de uma harpa, levando um músico a bater palmas de alegria. Ou seja, ambos trazem felicidade a aqueles a seu redor, mas cada um a sua maneira.
O efeito mais interessante do esquema de controle empregado é a conexão do jogador com a relação estabelecida entre os irmãos. O joystick funciona como uma manifestação física da união dos personagens, sugerindo, ao mesmo tempo, que são diferentes – cada um com seu próprio analógico e gatilho –, mas invariavelmente unidos – pelo mesmo controle.
A equipe da Starbreeze explora bem essa sintonia nos momentos chaves do jogo. Eliminar o controle de um dos irmãos em certa cena, por exemplo, transmite a mesma sensação de perda dos personagens ao jogador. Do mesmo modo, no clímax, a volta desse controle em um contexto diferente conclui brilhantemente o arco de um dos irmãos, completando sua jornada de independência e maturidade.
Beneficiado por sua pequena duração, Brothers apresenta um ritmo impecável, mesclando possibilidades de interação com o cenário com ligeiras sequências de plataforma – os irmãos têm habilidades de parkour tão avançadas quanto o protagonista de Prince of Persia – e emocionantes cenas de ação, como um empolgante voo de asa delta e uma súbita descida por uma corredeira, que injetam necessárias doses de adrenalina para manter o jogador interessado.
Também é interessante notar como a fantasia no universo do jogo vai se tornando cada vez mais proeminente com o avanço do jogador – a vila inicial não contém nenhum aspecto fantástico, enquanto o clímax transcorre em um ambiente completamente mágico – e ganhando traços alegóricos – a violência presente no mundo dos adultos é traduzida para as ações de gigantes, por exemplo.
A morte, por sua vez, é o tema que amarra os acontecimentos, iniciando, concluindo e fazendo parte de toda a jornada dos irmãos. Quando eles caem na corredeira, por exemplo, é logo após atravessarem um cemitério, e nas águas há velas de luto acompanhando-os na descida, criando uma metáfora visual belíssima.
É uma pena, portanto, verificar que são justamente os eventos que levam ao clímax do jogo os mais falhos e frágeis da narrativa. Por colocarem uma mulher como elemento de conflito entre os irmãos, os desenvolvedores – além de caminharem por território moralmente reprovável – fazem o último ponto de virada da história ser totalmente deslocado tematicamente do restante do jogo: ele não é sobre perda e luto, mas ciúme. Desse modo, ele não surge organicamente na narrativa, soando profundamente tolo.
Brothers: A Tale of Two Sons é uma breve e comovente aventura que se destaca pela forma com que torna jogabilidade e história elementos indissociáveis um do outro. Assim, trata-se de um jogo de videogame por excelência, cuja adaptação para outras mídias é praticamente impensável e cujas versões para iOS e celulares – por dispensarem o controle convencional – não são nem um pouco recomendáveis.
por Rodrigo Lopes C . O. de Azevedo.
08 de junho de 2016.
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